É muito raso se referir ao Choro somente como um gênero musical. Choro é Baião, Maxixe, Polca, Valsa, Frevo e tantos outras vertentes musicais. É uma linguagem, é uma forma de tocar, é a união de diversos sotaques. O choro nasce da junção da música europeia com os ritmos afro-brasileiros. Tem seu início em meados do séc. XIX, com o que chamamos de primeira geração de chorões, formada por: Joaquim Callado, Anacleto de Medeiros, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth e Pixinguinha. Essa geração é assim chamada devido a suas contribuições rítmicas e pela forma como foram estabelecendo a
estrutura da música brasileira.
Callado (1848-1880), flautista compositor da conhecida polca “Flor amorosa”, que foi se naturalizando como choro nas rodas ao longo dos anos; Anacleto (1866-1907), referência na criação de schottisch e por introduzir a música brasileira na banda do corpo
de bombeiros; Chiquinha Gonzaga (1847-1935) uma das mulheres mais influentes no choro, no piano e na música popular brasileira, que entre diversas valsas, polcas e tangos brasileiros, fez a marchinha de carnaval “Abre alas”; Ernesto Nazareth (1863-1934) pianista com muita destreza, com extensa obra e músicas muito utilizadas ainda hoje em rodas de choro, dentre elas “Apanhei-te cavaquinho”, “Odeon” e “Brejeiro”; Alfredo da Rocha Vianna Filho, conhecido como Pixinguinha, a figura maior do choro (1897-1973). Foi o responsável por estabelecer o choro como uma linguagem “fixa”, com 3 partes, 16 compassos em cada parte, estrutura de A, A, B, B, A, C, C, A (mesmo que ele próprio venha a fazer choros de duas partes e em outros moldes). Foi flautista, saxofonista, arranjador, maestro e compositor de clássicos como “Naquele tempo”, “Cochichando”, “Vou vivendo” e o clássico que ficou mundialmente conhecido com uma letra que grande parte dos brasileiros conhece “Carinhoso”. Esses são os primeiros, mas grandes nomes surgiram ao longo desses cerca de dois séculos de música, dentre eles pode-se destacar as obras e legados de Jacob do
bandolim, Altamiro Carrilho, Waldir Azevedo, Raphael Rabello, Avendano Júnior, Garoto, Plauto Cruz, Sivuca,Dino 7 cordas, Ademilde Fonseca, Radamés Gnattali, João Pernambuco, e entre os mais recentes que vem contribuído com choros contemporâneos,
podemos lembrar Hamilton de Holanda, Luciana Rabello, Maurício Carrilho, e mais especificamente no Rio Grande do Sul, Mathias Pinto e Elias Barboza. Claro que essa lista dá alguns exemplos, mas há centenas ou milhares de nomes ao longo dessa história
que contribuíram de alguma forma para construir e fixar o choro como um gênero tão importante na música brasileira.
Os subgêneros mais comuns do choro usados em rodas de choro são: polca, valsa, schottisch, maxixe, tango brasileiro, choro sambado, samba choro, baião e frevo.
Algumas alunas do Regional de Choro e Samba da Cordas e cordas fizeram 3 perguntas sobre esse gênero, que me disponibilizei a responder. São elas:
– Comente sobre a influência das mulheres no choro: Infelizmente o cenário demorou a dar espaço para as musicistas e compositoras, um exemplo disso é a escassez de instrumentistas em rodas e também o fato de muitos fazerem referências apenas à
Luciana Rabello e Chiquinha Gonzaga como compositoras deste gênero. E claro, Ademilde Fonseca e Elizeth Cardoso como intérpretes.
– Quando as mulheres começaram a participar das rodas? Não se tem um registro que possa afirmar uma data específica, mas podemos afirmar que a presença da mulher era pouca ou quase inexistente. Acredito que devido à movimentos e eventos que
vem incentivando mulheres instrumentistas e compositoras, o cenário pode estar se modificando. É o que esperamos!
– Gostaria de saber por que chamam de Choro ou Chorinho este gênero de música: A própria expressão “Choro” tem procedência amplamente discutida. O folclorista Luís da Câmara Cascudo acreditava que Choro vinha da palavra “xolo”, que era um baile dos escravos. Já Ary Vasconcelos, jornalista e crítico musical, acreditava que o termo teria origem nos choromeleiros, uma corporação de músicos de muita importância no período colonial. O também jornalista e crítico musical José Ramos
Tinhorão, acreditava que Choro era uma decorrência da sensação melancólica gerada pelas “baixarias” dos violões. Por outro lado, Henrique Cazes (criador do livro “Choro: Do quintal ao municipal” excelente leitura e fonte dessas informações) afirma que nas
primeiras gravações de grupos de choro, ocorridas por volta de 1907, o violão ainda não era tocado da maneira característica que conhecemos hoje, portanto em sua opinião a palavra Choro teria origem na maneira chorosa de se frasear as melodias, daí também os músicos serem chamados de “chorões”. Na verdade, a quantidade de gravações naquela época era tão ínfima, que consideramos impossível tirar conclusões sobre como o Choro era realmente executado em seus primórdios.
Em 23 de abril, comemora-se o Dia Nacional do Choro, em homenagem ao nascimento do grande Pixinguinha! Pixinguinha foi capaz de traduzir a alma da música
brasileira de forma que ela chegasse à teatros, mas também à rodas. Que chegasse à variados países, e em locais remotos do nosso grande Brasil. Na definição de Ary Vasconcelos, ele diz que se você tiver 16 livros para falar sobre a música brasileira, será pouco. Mas se tiver que reduzir a música brasileira a uma palavra, com certeza, seria Pixinguinha. E é nesse espírito que essa música vem se mantendo viva por tanto tempo, sempre apresentando grandes talentos e se reciclando. No mês de abril não comemoramos apenas o Choro, mas toda a música popular brasileira derivada e influenciada por essa linguagem musical. O Choro é livre!
Gabriela Zanatta, Professora de cavaquinho e Coordenadora do Regional de Choro & Samba